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Eu, uma brasileira
Clarice Lispector . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Uma
russa de 21 anos de idade
E
que está no Brasil há 21 anos
Menos
alguns meses.
Que
não conhece
Uma
só palavra de russo
Mas
que pensa, fala, escreve
E
age em português,
Fazendo
disso sua profissão
E
nisso pousando todos
Os
projetos do seu futuro,
Próximo
ou longínquo.
Que
não tem pai nem mãe –
O
primeiro, assim como as irmãs
Da signatária, brasileiro naturalizado..
–
E
que por isso não se sente
De
modo algum presa ao país
De
onde veio,
Nem sequer por ouvir relatos sobre ele.
Que
deseja casar-se com brasileiro
E
ter filhos brasileiros.
Que,
se fosse obrigada a voltar
À
Rússia, lá se sentiria
Irremediavelmente
estrangeira,
Sem
amigos, sem profissão,
Sem
esperança.
(Trecho,
“poemado”, de carta da escritora ao Presidente Getúlio Vargas, datada de 3 de janeiro
de 1942)
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Fac simile da carta de Clarice Lispector
Importante: Embora existam dezenas de “poemas de Clarice Lispector” circulando pela internet, a escritora jamais publicou qualquer texto em versos. Tais poemas são, como este aqui, textos em prosa quebrados em versos por gente irresponsável como eu... ou, pior, poemas de outros autores a ela atribuídos.